
Diário das Commodities: Seu Futuro Rico de 17 de janeiro
Chuvas intensas atrasam colheita
Nas últimas semanas, municípios de Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Bahia enfrentaram volumes significativos de chuvas, com registros acima de 100 mm em apenas um dia. Esse cenário trouxe grandes desafios para os produtores rurais, que encontraram dificuldades para acessar as lavouras e realizar a colheita. As máquinas agrícolas não conseguem operar em solos encharcados, o que gera atrasos e aumento dos custos operacionais. Além disso, as chuvas constantes impedem a secagem natural dos grãos no campo, comprometendo a qualidade do produto e gerando um efeito cascata em toda a cadeia de exportação. Esse atraso na colheita é preocupante, especialmente para estados como o Mato Grosso, responsável por uma parcela significativa da produção nacional. A continuidade desse cenário pode impactar tanto a oferta interna quanto os compromissos de exportação, resultando em perdas financeiras para os produtores e desafios logísticos para o setor agrícola.
Alta umidade dos grãos



O excesso de chuvas registrado nas principais regiões produtoras do Brasil tem gerado uma alta umidade nos grãos, impedindo o secamento natural necessário para uma colheita de qualidade. Essa condição força os agricultores a colherem a soja antes do ponto ideal, ocasionando perdas significativas tanto no peso quanto na qualidade do produto. O grão com alto teor de umidade é mais suscetível a avarias durante o armazenamento e transporte, além de aumentar os custos com secagem artificial. Outro problema grave é o surgimento de anomalias, como a proliferação de fungos, que comprometem ainda mais a comercialização e o valor de mercado da soja. Para os produtores, o desafio é encontrar um equilíbrio entre o atraso na colheita e a necessidade de evitar maiores perdas, enquanto enfrentam um cenário climático adverso e imprevisível. Esse fator pode refletir diretamente nos resultados econômicos da safra 2024.
Impacto no embarque de soja
O Brasil, maior exportador mundial de soja, enfrenta uma redução significativa nos embarques devido ao atraso na colheita causado pelas chuvas. O line-up atual, que contabiliza 3,7 milhões de toneladas para embarque em janeiro e fevereiro, está muito abaixo dos volumes registrados no mesmo período de anos anteriores. Em 2023, foram embarcadas 5,7 milhões de toneladas, e em 2024, a expectativa inicial era superar esse volume, mas o cenário climático alterou as projeções. Essa redução afeta não apenas o mercado interno, mas também compromete a posição do Brasil como fornecedor confiável no comércio internacional, especialmente para a China, principal destino da soja brasileira. Além disso, os custos logísticos podem aumentar devido à necessidade de reprogramação de embarques, prejudicando ainda mais os lucros dos produtores. Se as chuvas continuarem, é possível que os impactos negativos se estendam até março e abril, agravando ainda mais a situação.
Efeito nos estoques da China
A China, principal importadora de soja brasileira, já começa a sentir os efeitos da redução nos embarques devido aos atrasos na colheita no Brasil. Atualmente, os estoques nas fábricas chinesas estão em um nível confortável, com 6 milhões de toneladas, mas esses volumes começaram a cair rapidamente, indicando um desequilíbrio entre oferta e demanda. Caso os embarques brasileiros continuem abaixo do esperado em março e abril, as fábricas podem enfrentar dificuldades para manter a produção no ritmo desejado. Essa situação deve impactar os preços do farelo de soja no mercado spot e provocar um aumento nos spreads da Bolsa de Dalian, favorecendo contratos de curto prazo. A redução nos estoques pode ser parcialmente compensada por leilões de soja no mercado chinês, mas a dependência do Brasil e a impossibilidade de suprir a demanda por outros fornecedores, como os Estados Unidos, tornam a situação ainda mais delicada.
Desempenho nos portos

Os impactos das chuvas sobre a logística de escoamento da soja também são perceptíveis nos portos brasileiros. Os terminais do Norte, que dependem de rotas mais vulneráveis ao clima, estão enfrentando atrasos significativos no recebimento e embarque da produção. Em contraste, o Porto de Paranaguá, localizado no Paraná, deve apresentar um desempenho mais rápido, impulsionado pelo clima mais seco na região. Essa discrepância no ritmo dos embarques pode alterar a dinâmica do mercado de exportação, com maior concentração de volumes nos portos do Sul. Além disso, o aumento da demanda em Paranaguá pode gerar gargalos logísticos e elevação dos custos operacionais, prejudicando o fluxo eficiente da soja. Esse cenário reforça a importância de estratégias de mitigação, como a diversificação de rotas e o aprimoramento da infraestrutura portuária, para minimizar os impactos das adversidades climáticas no setor agrícola brasileiro.
Comparação com anos anteriores
Nos últimos anos, o Brasil tem se consolidado como um dos maiores exportadores de soja do mundo, mas as condições climáticas têm impactado diretamente os volumes embarcados. Em 2023, o país embarcou 8 milhões de toneladas de soja nos dois primeiros meses do ano, um resultado considerado abaixo do potencial devido ao excesso de chuvas. Já em 2024, as condições climáticas favoreceram uma colheita mais rápida, permitindo que 11 milhões de toneladas fossem exportadas no mesmo período. Este ano, no entanto, as chuvas intensas voltaram a atrasar a colheita e o escoamento, reduzindo drasticamente os volumes embarcados em janeiro e fevereiro. O line-up atual projeta 3,7 milhões de toneladas, indicando uma queda significativa em relação aos anos anteriores. Essa instabilidade afeta não apenas a economia brasileira, mas também a confiança de importadores, especialmente a China, que depende fortemente da soja brasileira.
Impacto no milho safrinha
O milho safrinha, segunda safra do cereal no Brasil, está enfrentando atrasos críticos no plantio, especialmente no Mato Grosso, maior produtor nacional. As chuvas intensas que dificultam a colheita da soja também atrasam a liberação das áreas para o cultivo do milho, que já acumula um atraso de pelo menos 10 dias, com possibilidade de estender-se para 20 dias. Esse atraso compromete a janela ideal de plantio, que garante o desenvolvimento da cultura em condições climáticas favoráveis. Caso o plantio ocorra fora dessa janela, a produtividade pode ser significativamente reduzida, aumentando o risco de perdas financeiras para os agricultores e para o setor como um todo. Além disso, o milho safrinha é fundamental para atender à demanda interna e para exportação, e qualquer redução na oferta pode pressionar os preços no mercado, gerando instabilidade para os consumidores e produtores.
Plantio de milho em março

Caso o plantio do milho safrinha seja postergado para março, as perspectivas de produtividade enfrentam grandes desafios. O atraso no plantio leva a uma fase de pendoamento em maio, período historicamente menos favorável devido a menores índices de chuva e temperaturas mais elevadas. Essa combinação de fatores pode comprometer o desenvolvimento do grão, elevando os riscos de quebra de safra. Além disso, o milho plantado em março enfrenta uma janela menor para o crescimento, o que pode impactar negativamente o rendimento por hectare. Esse cenário preocupa não apenas os produtores, mas também os mercados interno e externo, dado que o Brasil é um dos maiores exportadores de milho do mundo. A situação exige planejamento estratégico por parte dos agricultores e apoio governamental, como a disponibilidade de crédito emergencial e o incentivo ao uso de tecnologias adaptadas a condições climáticas adversas.
Mercado descoberto
A redução da oferta de milho em maio, associada aos atrasos no plantio da safra, cria um cenário de incerteza no mercado. Esse contexto aumenta o risco de desabastecimento em um período crucial para indústrias que dependem do cereal, como a de rações e a de biocombustíveis. Além disso, o atraso na colheita impacta diretamente a logística de exportação, dificultando o cumprimento de contratos internacionais. Navios que deveriam ser carregados em fevereiro e março podem enfrentar longas esperas nos portos, aumentando os custos operacionais e gerando instabilidade nos preços. A ausência de estoques suficientes para atender à demanda interna agrava a situação, deixando o mercado descoberto em um momento crítico. Para mitigar os efeitos, é essencial monitorar a evolução climática e buscar alternativas para otimizar o escoamento e o armazenamento, reduzindo os impactos da instabilidade climática no setor agrícola.
Demanda e leilões na China

A China, maior compradora de soja brasileira, pode intensificar suas compras no mercado internacional após o feriado lunar, utilizando leilões como estratégia para garantir o abastecimento. Atualmente, as fábricas chinesas estão reduzindo o processamento no curto prazo, refletindo os atrasos nos embarques do Brasil e os estoques elevados no início do ano. Essa redução no ritmo de produção fortalece os preços no mercado spot e impacta os spreads dos contratos futuros na Bolsa de Dalian. No entanto, a dependência da soja brasileira permanece alta, e qualquer intensificação da demanda chinesa pode pressionar ainda mais o mercado global, elevando os preços. A estratégia chinesa de recorrer a leilões visa compensar a oferta limitada no curto prazo, mas a reprogramação dos embarques brasileiros será crucial para evitar maiores desequilíbrios no abastecimento e na dinâmica do comércio internacional.
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