
Uma versão moderna do poema eu etiqueta de Carlos Drummond de Andrade
Na vitrine da vida, sou produto.
Carrego etiquetas, selos e códigos QR,
vendendo antes mesmo de eu entender.
Não sou Nilvan, nem João, nem Maria:
sou a calça de grife, o smartwatch,
o tênis que pisca na academia.
Tudo em mim é marca, e não é barato.
A camiseta grita o logo gigante,
o celular na mão é status,
e a selfie no espelho… ah, essa é pura vitrine!
Tô no mercado, sou mais um produto entre tantos.

Compro o que não preciso,
pra mostrar quem (não) sou.
Sou o freguês fiel da liquidação,
o refém do “compre agora, antes que acabe”.
E se não tenho o modelo novo,
sinto-me obsoleto, como um VHS esquecido.
“Minimalismo é tendência!” Eles dizem,
mas o armário transporta coisas minimamente úteis.
Guarda caixas de eletrônicos que mal uso,
mas que, sabe como é, me define.

Minha alma tem código de barras.
Quem sou? Sou o carrinho cheio,
o pacote chegando, o e-mail do frete grátis.
Meus desejos? Decididos pelo algoritmo,
que eu conheço mais do que eu.
E quando chega a hora de viver,
o que faço? Parcelo em 12x,
sem juros, mas com muita ansiedade.
Porque no fundo, sei:
o vazio que tento preencher
não está à venda.

Mas quem liga?
Compro outro produto e sigo.
Porque, afinal, em 2025,
o lema é: consuma, logo existo.

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